Fernando Guerreiro: ‘Não vamos deixar que a politicagem contamine a cultura’

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Presidente da FGM faz balanço da gestão municipal, comemora interlocução com o Minc e cita relação superficial com o governo do estado

Eleito na semana passada representante da região Nordeste no Fórum Nacional de Gestores Municipais de Cultura das Capitais e Municípios Associados da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), o presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM), Fernando Guerreiro, fez um balanço de sua gestão à frente do órgão e, evitando embates eleitoreiros, defendeu mais ação e menos “politicagem” para alavancar o setor.

“Sou da área cultural, entendo que tem o viés ideológico, que hoje em dia, fora os radicais, está tudo muito embolado. No fórum vimos muitos vieses e combinamos que não vamos deixar que a politicagem contamine a cultura. Politicagem não dá”, relatou em entrevista ao bahia.ba o presidente da FGM, órgão vinculado à Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), que tem como finalidade formular e executar a política cultural de Salvador.

Durante o bate-papo, ele elogiou a interlocução com a ministra da Cultura, Margareth Menezes, enalteceu a escolha do superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) na Bahia, Hermano Queiroz, mas apontou uma relação superficial com a Secretaria de Cultura da Bahia (Secult-BA) e o governo da Bahia, que nos últimos anos tem sido alvo de críticas por suposto abandono do patrimônio cultural e falta de diálogo com o setor de eventos.
“A gente tem aproximação. Por exemplo, se cumprimenta, mas, objetivamente, ainda pouca coisa caminhou junto. Estou sempre disposto a dialogar e conversar, mas o dia-a-dia não consigo parar. A gente ainda está mantendo encontro nos eventos”, disse ele, ao descrever a relação entre a administração de Salvador e a gestão estadual.

Dentre o rol de queixas da área cultural à atuação do governo da Bahia na capital, estão casos como a degradação do Parque de Pituaçu, o desabamento do Centro de Convenções, o incêndio da Sala Principal do Teatro Castro Alves e a falta de alternativas diante do fechamento provisório, além de, mais recente, a denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal pela situação de abandono do Parque Solar Boa Vista.

O histórico contrasta com as entregas da Prefeitura, que incluem equipamentos como o Novo Centro de Convenções, Cidade da Música, Casa do Carnaval, Teatro Gregório de Matos, Espaço Cultural da Barroquinha, Espaços Boca de Brasa, Memorial Pavilhão 2 de Julho, além do lançamento da Salcine, da retomada de editais e do apoio a iniciativas de diversas linguagens artísticas.

Neste sentido, enquanto presidente da FGM, Guerreiro destaca o planejamento e a assertividade para tirar do papel projetos importantes para a cidade. “Desde que entrei na gestão, ainda sob ACM Neto, que a gente ressuscitou a fundação. Começamos lentamente a implementar uma política cultural para Salvador, que era coisa inexistente, criamos planos de cultura. O trabalho nunca parou, foi ininterrupto. Com Bruno [Bruno Reis (UB)] isso ganhou uma dimensão ainda mais potente, com a chegada de Pedro Tourinho [secretário de Cultura] também”, destacou.

“A gente brinca dizendo que a Cultura tem dois secretários, e mais Isaac [Isaac Edington, presidente da Saltur]”, completou Fernando Guerreiro, segundo o qual, a máxima da gestão municipal é “pouca conversa e muita ação”. “É muito importante discutir, mas tem que realizar”, reforçou.

Além dos projetos já entregues, Guerreiro comemora as novas iniciativas engatilhadas pela Prefeitura, a exemplo da Arena Multiuso na Boca do Rio e a reforma do Teatro Vila Velha, classificada por ele como “a cereja do bolo”. “A gente está aí pra no fim do ano inaugurar o Arquivo Público e a Escola das Artes. Estamos com a previsão de chegar a dez Espaços Boca de Brasa, inauguramos mais cinco no ano que vem. E a cereja do bolo, a reforma do Teatro Vila Velha, com investimento de R$ 2 milhões”, prevê o presidente da FGM. “Dia 31 de agosto do ano que vem, quando o Vila faz 60 anos, a gente entrega essa obra”, acrescentou.

Sem entrar em embates políticos frontais, ele informou que as intervenções do Executivo municipal irão alcançar também o Passeio Público, que é gerido pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC). Durante a entrevista ao bahia.ba, ele lembrou ainda que algo semelhante aconteceu no escopo do Memorial Pavilhão 2 de Julho e do Largo da Lapinha, quando Salvador também assumiu atribuições do governo estadual. “Veio junto com a praça, que seria uma obra da Conder, mas acabou indo parar com a Prefeitura”, lembrou o gestor, citando a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia, presidida por José Trindade, que figura como um dos possíveis candidatos da base do governador Jerônimo Rodrigues (PT) nas eleições municipais de 2024, contra a reeleição de Bruno Reis.

Outra prioridade apontada pelo presidente da Fundação Gregório de Mattos é o Teatro Municipal Salvador. “Estamos de olho no Teatro Municipal, a gente está correndo com isso. Tenho conversado bastante, porque a gente precisa priorizar. Estou observando alguns espaços”, disse o gestor cultural, avaliando ainda que o novo equipamento não deve competir com o Teatro Castro Alves. “Acho que os dois precisam existir. Nem com o TCA aberto dá conta da demanda, a gente precisa ter um segundo teatro na cidade com capacidade para mil pessoas. Estamos com crise de espaço, muitos foram fechados”, pontuou.

INTERLOCUÇÃO COM O GOVERNO FEDERAL
Após agenda em Brasília (DF), na semana passada, o novo representante da região Nordeste no Fórum Nacional de Gestores Municipais de Cultura disse ter ficado “impressionado” com o Ministério da Cultura e afirmou que a titular da pasta, Margareth Menezes, está “caminhando bem”.

Guerreiro revelou ainda que a parceria com a União renderá frutos e adiantou que articula junto ao superintendente do Iphan na Bahia, Hermano Queiroz, a revitalização de fontes históricas de Salvador, além de várias ações para o Novembro Negro, incluindo a retomada do Museu Nacional da Cultura Afro-brasileira (Muncab).

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